Diário de um melancólico perfeccionista:
“Dia 10 de abril de 2024
Hoje é mais um dia daqueles de cobranças e frustração. Me sinto mais uma vez submerso nessa avalanche de sonhos não alcançados e aspirações não realizadas. A essa altura, eu deveria estar no auge da minha vida, desfrutando das conquistas e olhando para trás com orgulho. No entanto, a realidade é muito diferente, me encontro preso em um ciclo interminável de insatisfação e autocrítica. Tenho, sim, grandes sonhos e um punhado de ambições.
Quero fazer mais, ser mais, ter mais. O problema é que, por mais que me esforce, minhas ações nunca parecem boas o suficiente para serem compartilhadas com o mundo. Eu sei, procrastino as atividades mais importantes, adiando o momento de enfrentar o desafio de transformar minhas ideias em realidade. O medo da inadequação, da imperfeição, paralisa minhas ações, deixando-me incapaz de dar vida às minhas aspirações.
A frustração é constante. Olho para as pessoas ao meu redor, algumas com menos recursos, enfrentando desafios mais árduos e, ainda assim, conquistando o que parece inatingível para mim. Sinto-me como um observador invejoso, imobilizado por meus próprios dilemas internos, enquanto outros seguem em frente, alcançando objetivos que parecem escapar das minhas mãos.
A insegurança é como um veneno que se infiltra em cada pensamento, minando minha autoconfiança. Questiono-me incessantemente: “Será que realmente está bom? Será que sou bom o suficiente? Será que sou realmente capaz de realizar?” A voz interior, impiedosa e crítica, ressoa constantemente, alimentando a dúvida e minando qualquer resquício de autoestima que eu possa ter.
Hoje eu percebo, a busca pela perfeição me deixou paralisado, incapaz de avançar. Buscar incessante por um padrão idealizado tornou-se uma armadilha, prendendo-me em um ciclo autodestrutivo de expectativas irrealistas e autocrítica implacável.”
Esse relato acima descrito é fictício, mas poderia muito bem ser o relato real do que se passa no coração de um melancólico que vive aprisionado pelo perfeccionismo.
É importante frisar que não apenas os melancólicos podem cair nessa armadilha da busca desenfreada pela perfeição, pessoas de todos os temperamentos também podem se deixar prender por essa “teia”.
Os melancólicos, no entanto, possuem algumas características que os tornam mais propensos ao perfeccionismo.
Suas qualidades, frieza e secura, aguçam seu desejo de aprofundar as informações, sentimentos e experiências que chegam até ele. Tudo isso o marca e, mesmo que a sua reação seja lenta, essas marcas demoram a sair do seu coração.
Seu elemento representativo é a terra e, assim como ela recebe, nutri, faz germinar e florescer a semente, as pessoas de temperamento melancólico acolhem, guardam e podem devolver ao mundo um fruto proveniente daquilo que receberam. Esse fruto pode ser bom, dependendo da qualidade dessa semente e terra, assim como pode ser ruim.
O melancólico é detalhista, analítico, gosta e precisa de ordem e organização. Busca sempre entregar o melhor nas tarefas que se propõe a fazer. Por isso, ele pode cair na busca pelo resultado ideal perfeito, deixando-o sempre insatisfeito com o produto das suas ações.
Nesse artigo falaremos mais a respeito dessa característica que aprisiona e mina a execução e a vida de tantas pessoas, o perfeccionismo.
Você descobrirá que a busca pela excelência não precisa ser uma fonte de sofrimento constante.
O que você encontrará aqui:
- O perfeccionismo é uma qualidade ou defeito?
- Como saber se você é perfeccionista?
- O que é o perfeccionismo?
- A raiz do perfeccionismo
- O que se passa na mente de um perfeccionista?
- Perfeccionismo X Produtividade
- Perfeccionismo X melhoria constante
- Conclusão
O perfeccionismo é uma qualidade ou defeito?
O desejo de perfeição está em nós como parte da nossa constituição. Ele pode manifestar-se de maneira positiva, quando a busca por excelência motiva-nos a realizações magnânimas. Contudo, ele também pode assumir uma perspectiva negativa, transformando-se em uma obsessão pela perfeição que, eventualmente, paralisa a nossa capacidade de agir.
Rafael Llano Cifuentes nos diz:
“Ao embate das nossas limitações espirituais, intelectuais, afetivas e físicas, sentimos uma necessidade inclinável de superação. Não nos contentamos com o que somos; precisamos ser mais e mais, como se as formas embrionárias de perfeição que trazemos dentro de nós estivessem sempre suspirando, inquietas, pelo seu perfeito acabamento.”
O perfeccionismo, muitas vezes considerado uma virtude, revela sua face mais sombria nos sofrimentos silenciosos que impõe aos que o acolhem e o vivem sem questioná-lo.
Dessa forma, algumas pessoas viverão o perfeccionismo como força impulsionadora, proporcionando exato cumprimento de prazos, compromisso com as tarefas propostas e a produção de resultados de ótima qualidade.
Outras o viverão de maneira disfuncional, ocasionando procrastinação, crítica excessiva a si, baixa autoestima, prejuízo nas relações interpessoais, improdutividade, frustração, medo e culpa.
Descobrir se você é um perfeccionista pode ser a chave para desvendar os mistérios que permeiam suas ações diárias — ou falta delas.
Como saber se você é perfeccionista?
Responda com sinceridade às seguintes perguntas:
- Você já se viu adiando tarefas?
- Revisando incessantemente cada detalhe de uma atividade feita?
- Sentindo um peso emocional e uma demasiada frustração ao não alcançar seus próprios — e elevados — padrões?
- Você costuma se culpar e se punir por seus erros?
- Você costuma desconfiar dos elogios que as pessoas tecem a você? Nunca ou raramente acha que estão sendo verdadeiras?
Se sua resposta for, sim, a algumas dessas perguntas, pode ser que você já tenha experimentado os tormentos do perfeccionismo e consequentemente, em sua vida colhe frutos contaminados.
O que é perfeccionismo?
O perfeccionismo é uma necessidade irracional de ser ou de parecer perfeito.
Sabe quando a pessoa faz e refaz um trabalho e, para ela, nunca está bom o suficiente? Pronto, este é um exemplo típico de comportamento perfeccionista.
O perfeccionista estabelece para si altos padrões de perfeição, desafiadores e por vezes até inatingíveis. Esses padrões, muitas vezes, não estão claros nem para ele mesmo. A única certeza é a sensação de que aquilo que realizou ainda não está bom o suficiente, impulsionando-o a persistir, refazer partes específicas ou reiniciar todo o trabalho.
A raiz do perfeccionismo
O perfeccionismo pode se manifestar em um indivíduo devido a diversos fatores. Vamos citar 4 deles:
1. Temperamento
O primeiro está associado ao temperamento, sendo o melancólico aquele que, dentre eles, é mais propenso a manifestar esse traço.
O melancólico, caracterizado pela combinação de frieza e secura, demonstra um desejo acentuado e uma habilidade intrínseca de buscar ordem em procura da verdade das coisas.
Essa disposição permite identificar o que é estável, duradouro e o que é transitório. Tendo uma inclinação para a meticulosidade, organização e pragmatismo, o melancólico busca a perfeição como resultado de seu anseio por aprofundar seu entendimento, descobrir a verdade e vivenciá-la.
Além disso, é importante citar que esse perfeccionismo pode também ser influenciado por fatores ambientais, como pressões externas e expectativas sociais, que intensificam ou atenuam a busca pela perfeição. Essas influências podem moldar como o indivíduo melancólico manifesta seu perfeccionismo.
Como se apresenta o perfeccionismo no melancólico?
Esse perfeccionismo pode se apresentar de forma equilibrada ou disfuncional.
O melancólico perfeccionista produz geralmente resultados excelentes em seu trabalho, embora muitas vezes não se preocupe se a abordagem escolhida para realizar as tarefas é a mais eficiente ou a que consome menos recursos. Em outras palavras, a preocupação com a produtividade muitas vezes não está em primeiro plano.
Ele é aquele ótimo funcionário em que o chefe confia para fazer os trabalhos mais importantes; raramente falha no que foi proposto e na maioria das vezes entrega bem mais do que o esperado.
As pessoas desse temperamento que sofrem com um perfeccionismo disfuncional tenderão a ser críticas consigo, com as situações que lhe ocorrem e também com os outros, deixando claro para as pessoas que estão ao seu redor sua insatisfação.
Isso pode acarretar problemas nos seus relacionamentos, já que a busca incessante pela perfeição muitas vezes resulta em um padrão rigoroso também para os outros, o que pode sobrecarregar as relações ao criar expectativas elevadas e gerar um ambiente de constante insatisfação.
O melancólico perfeccionista pode paralisar sua ação pelo erro cognitivo de acreditar que as condições externas não são as ideais para realizar determinada atividade. Por exemplo, um concurseiro pode decidir não estudar porque não possui a melhor apostila ou curso, ou porque seu ambiente não está completamente tranquilo e organizado.
Essa mentalidade frequentemente resulta no pensamento constante de que só realizará a tarefa quando tiver acesso a certos recursos específicos, criando uma barreira autoimposta para a execução imediata.
Tenha sempre em mente: às vezes, o desejo de excelência é um exagero do seu temperamento. Ter essa consciência é o primeiro passo para mitigar seus efeitos negativos.
Se você é melancólico e perfeccionista, a sua luta diária deve ser para que esse desejo intrínseco de perfeição seja verdadeiramente uma virtude e não um vício sabotador.
O desejo de perfeição precisa ser direcionado para proporcionar a realização de feitos grandiosos, marcados por uma qualidade superior, mas sem prejudicar a sua produtividade, seus relacionamentos interpessoais, sua saúde física e mental e, acima de tudo, sem jamais paralisar sua ação.
2. Educação
Ambientes com autocobrança excessiva podem gerar pessoas perfeccionistas. Elas vinculam, inconscientemente, o “ser amado” à realização de tarefas com perfeição.
Fomos criados em uma cultura que pune o erro. Desde a escola, somos orientados a tirar boa nota em provas para sermos aprovados e então aceitos na sociedade.
Essa cultura, aliada, muitas vezes, a pais rígidos e a uma educação com regras inflexíveis, pode dar origem a uma obsessão por perfeição.
Fique atento/a: se você reconheceu ser alguém com tendência perfeccionista, busque amenizar os impactos que esse comportamento tem na sua vida para que você não desencadeie esta mesma tendência em seus filhos ou em pessoas ao seu redor.
3. Abusos emocionais, traumas e bullying
Um indivíduo, seja ele adulto ou criança, que passa por situações vexatórias ou é excluído de um grupo de amigos, por exemplo, por não possuir alguma característica ou por inadequação, pode desenvolver o perfeccionismo para compensar a falta desses atributos.
A necessidade de se adequar aos padrões impostos por determinado ambiente pode surgir como uma resposta à inadequação sentida, impulsionando o indivíduo a buscar constantemente a perfeição como uma forma de ser aceito ou reconhecido.
4. Uso indiscriminado de redes sociais
O fácil e constante acesso à informação nos faz ter contato com personalidades que há uns 30 anos parecia um sonho inimaginável. Ver o que fazem diariamente, conhecer aspectos mais pessoais e ter acesso à sua maneira de pensar instiga a nossa curiosidade.
Embora isso possa trazer benefícios significativos, também pode se transformar em uma armadilha de comparação e frustração, à medida que somos levados a contrastar nossas próprias vidas com as representações, na maioria das vezes, idealizadas dessas figuras públicas.
É muito comum encontrarmos nas redes sociais vidas perfeitas, belezas irretocáveis, casamentos ideais e trajetórias profissionais exemplares. Essa constante exibição de perfeição faz com que nos comparemos e busquemos compensar a frustração por não sermos dessa ou daquela maneira com o perfeccionismo.
Nesse contexto, a filtragem dessas informações, assim como a consciência de que essa perfeição demonstrada não existe e que procurá-la é estabelecer para si uma meta inatingível, consequentemente doentia, se torna essencial para nos livrar das neuroses.
Embora crianças e adolescentes sejam particularmente vulneráveis a essas influências, os adultos também não estão imunes aos impactos negativos dessa exposição irrefreada.
O que se passa na mente de um perfeccionista?
Existe uma prisão na qual o perfeccionista está trancado. Ela não é material, como as prisões convencionais. Essa cela fria, solitária e sufocante está situada na sua mente.
Há crenças equivocadas (o que a terapia cognitivo comportamental – TCC – chama de distorções cognitivas ou padrões de pensamentos distorcidos) na mente do perfeccionista.
Ele tratará essas interpretações como verdade e agirá de acordo com elas. Viver dessa maneira pode trazer uma série de complicações não somente de ordem material — já comentado anteriormente —, como também nas esferas emocional e física.
Os perfeccionistas são fortes candidatos a desenvolverem doenças mentais relacionadas ao estresse, como o Burnout — Síndrome do Esgotamento Profissional —, a ansiedade, distúrbios alimentares e a depressão.
Além desses problemas emocionais, a pressão intensa e constante vivida por eles pode ter efeitos somáticos, contribuindo, a longo prazo, para o desencadeamento de outros problemas de saúde física.
As pessoas perfeccionistas observam as coisas ao seu redor, mas normalmente não conseguem interpretá-las corretamente, já que estão focando sua atenção na busca por acertar sempre, fazer o melhor trabalho, não ser criticado etc.
Essa “cegueira” não intencional é chamada de “efeito moldura”. O perfeccionista fica constantemente olhando para a moldura e esquece de dar atenção à obra de arte que está em seu centro.
A seguir, examinaremos algumas dessas distorções:
♢ O perfeccionista e seu medo de ser rejeitado
O perfeccionista vincula frequentemente o “ser perfeito” ao “ser amado” e aceito.
A crença errada presente aqui é: “se eu não ajo com perfeição, eu serei rejeitado”. O amor é visto por ele como algo meritocrático e não como dom gratuito.
O perfeccionista buscará atender todas as expectativas para não ser confrontado, julgado e consequentemente rejeitado.
A incessante comparação com um ideal inalcançável fomenta um sentimento de inadequação, levando a uma busca constante por validação externa.
Os sentimentos de medo, insegurança, autocobrança estão sempre presentes e muitas vezes, se não os racionalizados, serão a partir deles que o perfeccionista tomará suas decisões.
Eles acreditam que sentimentos ruins como culpa, julgamento e vergonha serão evitados caso executem suas ações com perfeição. De fato, isso em parte é verdadeiro, porém o preço que ele deve pagar é muito alto e não é proporcional ao bem desejado.
O perfeccionista não percebe o valor que ele tem simplesmente por ser humano, simplesmente por ser quem é e acha que precisa provar o seu valor pelo que faz e pela forma como faz.
Todos precisamos sentir-nos amados e aceitos como somos e não pelo que bem ou mal fazemos. É a falta desse amor — ou da percepção dele — que faz com que o perfeccionista carregue para cima e para baixo essa “armadura” que — segundo o seu entendimento — o protege contra a rejeição.
♢ A autoestima do perfeccionista
Frequentemente, o perfeccionista enfrenta desafios relacionados à sua autoestima.
Citação: “… ao experimentarmos uma e outra vez as nossas limitações, a minguada estatura da nossa personalidade, brota no nosso íntimo uma forte insatisfação que pode converter-se num aflitivo sentimento de inferioridade.” Rafael Lano Cifuentes
Os perfeccionistas normalmente se enxergam muito piores do que são. São extremamente rigorosos em relação a tudo o que fazem e são impiedosos com seus próprios erros.
Comumente, desejam ser notados e aceitos pelos seus feitos. Como se enxergam imperfeitos — como de fato o são, como todo ser humano — nunca satisfazem suas altas expectativas, logo carregam essa marca de baixa autoestima.
A autoestima nada mais é do que o nosso amor-próprio. Ela é resultado do aprimoramento de três práticas fundamentais:
- Autoconhecimento;
- Autoaceitação;
- Autodesenvolvimento.
Dificuldades em uma ou mais dessas esferas podem acarretar baixa autoestima.
É preciso conhecer-se para então se aceitar e é preciso aceitar-se — vencer a fase da negação das nossas fragilidades — para então ter um ponto de partida e buscar o autodesenvolvimento daquelas características que são passíveis de mudança.
Logo, uma das formas de vencer o perfeccionismo é cultivar uma autoestima saudável. E aí, como primeiro passo, você deve buscar melhor se autoconhecer.
Caso te interesse, há um artigo aqui no blog onde abordo o tema do autoconhecimento e dou algumas dicas de como melhor se autoconhecer. Espero que goste. O link está abaixo:
Repetir palavras de afirmação em frente ao espelho não te ajudará a melhorar sua autoestima. Você precisa se conhecer, vasculhar sua alma em busca dos seus defeitos, mesmo que isso cause um incômodo.
Os dois extremos são prejudiciais: achar que possui todos os defeitos possíveis e fingir que não os tem para evitar o desconforto proveniente da descoberta do seu verdadeiro eu.
Apenas a verdade nos liberta!
A partir desse conhecimento sincero você deve pautar a sua vida na constância da prática de pequenas virtudes que para você são admiráveis e importantes.
Depois de um tempo vivendo assim, você começará a desenvolver confiança em si e acreditará que consegue realizar o que se propõe. Como resultado, sua autoestima melhorará.
Lembre-se, nós só estimamos o que é estimável, se você não consegue olhar para você mesmo e sentir orgulho de quem é e do que está construindo, inevitavelmente você terá baixa autoestima.
♢ O perfeccionista e sua aversão ao erro
O perfeccionista foca toda a sua atenção no erro cometido, ou pior, no erro que poderia cometer, na possibilidade da expectativa frustrada.
De fato, quem dá tanto valor ao erro procura fazer o máximo para evitá-lo.
Ele, por vezes, atrela, mesmo que inconscientemente, esse possível erro a quem ele é, logo, essa falha tende a doer muito mais, por ferir sua identidade.
O grande problema que se apresenta está no fato de que quem evita o erro evita viver e se expor a novas situações e oportunidades, consequentemente se fecha a algumas boas surpresas que a vida pode nos oferecer.
O perfeccionista desconsidera os benefícios adjacentes de toda exposição, mesmo que frustrada: o aprendizado, a superação de limites antes inalcançados, o bom desempenho na atividade, tudo porque não atingiu a perfeição almejada.
Frequentemente, essa repulsa ao erro é fruto do orgulho e vaidade que se instalaram no coração do perfeccionista. Ele cria para si uma autoimagem de alguém que é tão perfeito que não pode errar.
Caro perfeccionista, avalie com sinceridade se você tem esse apetite desordenado pela excelência apenas para ser admirado, reconhecido como aquele que faz o melhor trabalho e que não erra.
Obter a aprovação ou desaprovação de alguém não te fará ser melhor, ou pior. Apenas uma “Opinião” realmente importa e é esta que você deve temer.
♢ O perfeccionista possui a crença de que ser perfeccionista é bom, de que isso traz benefícios para sua vida
Uma crença muito comum na mente dos perfeccionistas e que, por sinal atrapalha sua evolução é acreditar que ser perfeccionista é algo positivo.
Sem dúvida, a pessoa que busca a perfeição se destaca pela qualidade do seu trabalho, porém é muito importante reconhecer que esse zelo meticuloso cobra um preço muito alto para a maioria das pessoas e é desproporcional ao bem que se deseja.
É crucial desmistificar a ideia de que o perfeccionismo é um indicador exclusivo de excelência. Em vez disso, devemos cultivar uma abordagem equilibrada que valorize o progresso e a aprendizagem, permitindo-nos abraçar a imperfeição como uma oportunidade de crescimento.
E mais uma coisa para você ter em mente: você não é o detentor da verdade! — Ok, isso pode ter soado meio hostil, mas explico:
Só porque você acredita em algo, isso não necessariamente é verdadeiro. As nossas crenças, por mais arraigadas que estejam em nós, são só crenças.
É preciso constantemente questioná-las e não as aceitar de imediato como verdades absolutas. Tenha a humildade de entender que você pode estar errado/a.
Perfeccionismo X Produtividade
É impossível ser produtivo sendo perfeccionista.
Dito de outra forma, o perfeccionismo é um fardo que inviabiliza a nossa produtividade.
O indivíduo perfeccionista está em busca de um padrão impossível de ser alcançado e isso cria um ciclo de autoexigência incessante.
Essa autoexigência leva por vezes à paralisia e/ou à insatisfação constantes. E a insatisfação transforma todo processo criativo em uma jornada angustiante, pois cada detalhe é submetido a uma análise minuciosa. O que, por sua vez, resulta em procrastinação e desgaste emocional.
É perceptível que esta jornada não leva ao desejado equilíbrio da quantidade de esforço, recursos e tempo na realização das tarefas. A pressão autoimposta pelo perfeccionista torna-se um obstáculo para a eficiência.
Como a improdutividade pode aparecer nas ações do perfeccionista?
- O perfeccionista não consegue equilibrar a quantidade de esforço e recursos na execução de um projeto, como resultado, ele dedica muito mais do que o necessário a uma atividade, gastando assim mais tempo, esforço e recursos do que deveria.
- O perfeccionista dedica todo o seu potencial na realização de uma tarefa, podendo até ficar esgotado ao extremo, o que é improdutivo, já que a execução de outras tarefas fica prejudicada.
- O perfeccionista pode ter um sério problema de procrastinação. Essa procrastinação pode aparecer por três motivos:
- Seu padrão de execução é tão alto que só em pensar em fazer uma determinada tarefa já percebe a quantidade de energia que deverá ser dispensada, então adia enquanto ainda é possível;
- O perfeccionista precisa das condições mais perfeitas para a realização de uma tarefa, caso contrário ele imagina que não possui os recursos necessários para iniciá-la e então adia até que consiga estes recursos que imagina necessitar;
- O medo do erro torna-se paralisante, impedindo a ação e retardando o progresso.
É importantíssimo cultivar uma mentalidade que valorize o progresso em detrimento da perfeição. Promover um ambiente saudável, onde a produtividade encontre um solo fértil para ser cultivada depende da aceitação de imperfeições, nossas e dos outros.
Precisamos aprender a instalarmo-nos na realidade e, reconhecendo a importância da atividade, fazer o nosso melhor.
Essa abordagem permite não apenas dar início à tarefa, mas também possibilita melhorias contínuas à medida que se progride. Essa postura prática e progressiva favorece o crescimento pessoal, ao invés de esperar por condições ideais que podem nunca chegar.
Perfeccionismo X melhoria constante
Sermos melhores naquilo que fazemos deveria ser uma das nossas aspirações diárias. Agir com perfeccionismo não!
A cada momento temos algo a nos superar. Uma palavra dita de maneira grosseira pode ser melhor lapidada; um cuidado adicional nas tarefas domésticas; mais atenção ao estudo de um livro — são exemplos de atitudes que podemos incorporar em nossa rotina diária e que nos levam a um caminho saudável de crescimento pessoal.
Cada pequeno esforço para aprimorar nossas ações e hábitos, por menor que seja, contribui para um progresso significativo a longo prazo.
É incrível como costumamos subestimar o poder acumulado nas pequenas atitudes realizadas com constância.
Para diferenciar a busca sadia de melhoria constante, do perfeccionismo, é crucial examinarmos os sentimentos envolvidos em cada um.
Enquanto a primeira é uma jornada leve, saudável e que nos motiva a seguir adiante, o perfeccionismo, além de obstruir o curso natural dos nossos projetos e sonhos — devido à procrastinação frequente —, provoca medo, estresse e ansiedade.
A busca pelo resultado perfeito, pelo produto irretocável é uma busca incoerente com a nossa realidade humana. Como seres humanos, somos falhos, imperfeitos, logo, o foco da nossa atenção deve estar sempre na melhor ação possível, considerando os recursos que temos disponíveis.
Devemos tirar os olhos do resultado perfeito e colocá-los na ação: melhorá-la constantemente; aprender com nossos erros; corrigir as nossas falhas e redirecionar os nossos passos quando estes se desviarem do caminho.
Enfim…
Todas as pessoas, sejam elas de temperamento melancólico ou não, possuem um tesouro que muitas vezes elas mesmas não conseguem enxergar.
Ser quem nós nascemos para ser deveria ser o nosso objetivo de vida. Para isso, nós precisamos refletir mais a respeito de quem verdadeiramente somos e principalmente executar mais, realizar da melhor forma as coisas que estão sob o nosso cuidado.
O perfeccionismo nos rouba esta possibilidade e deixa conosco sentimentos que nos maltratam e minam a nossa felicidade.
Espero que este artigo tenha feito sentido para você, assim como estudar sobre este tema sempre faz sentido para mim.
Como melancólica e perfeccionista, a minha luta é diária para não ser parada na execução do que me proponho. Nem sempre foi assim, mas é preciso dar um basta se você deseja alcançar uma felicidade além da pequena satisfação que a autoimagem perfeccionista proporciona.
No próximo artigo darei algumas orientações mais práticas para o perfeccionista administrar melhor essa tendência em si e não ser parado por ela.
Desejo que você termine seu dia escrevendo mais uma página do seu diário, mas diferentemente da angústia e infelicidade carregada por aquele melancólico perfeccionista do início do artigo, que você esteja inundado/a de esperança:
“Hoje, mais do que nunca, reconheço a necessidade de aceitar a imperfeição. Preciso aprender a abraçar meus projetos, mesmo que não atinjam o nível utópico que imagino. O processo é tão valioso quanto o resultado, e é hora de me libertar das correntes da procrastinação e da autoimposição de padrões inatingíveis.
Prometo a mim mesmo que amanhã será um novo dia, uma oportunidade para desafiar esses padrões autoimpostos e começar a transformar meus sonhos em realidade, mesmo que de maneira gradual e imperfeita. Talvez, ao aceitar a jornada e aprender com os erros, eu possa finalmente escapar desse labirinto de insatisfação e encontrar a realização que tanto busco.
Até amanhã, que seja um dia de mudanças, aceitação e realização.
Com sinceridade,
[Seu Nome] – um melancólico superando o perfeccionismo!”
Até o próximo artigo!
Quer se aprofundar nesse tema? Leia o livro A coragem de ser imperfeito, da Brené Brown. Você não vai se arrepender!
Oi Mirian,
Quando comecei a ler, pensei que seria apenas mais um artigo. Porém, a cada frase que eu lia, percebi o quão profundo suas palavras me tocavam. Muito sábias as suas colocações, parece que estou lendo uma descrição quase que exata de mim. Agradecida por compartilhar e por sua ajuda em forma de palavras ♥️.
Oi, Rosielen!
Fiquei muito feliz ao ler seu comentário. Saber que minhas palavras tocaram você é uma das maiores recompensas que posso ter como escritora de um blog. É gratificante saber que minhas reflexões ressoaram com suas experiências pessoais.
Agradeço por compartilhar seu feedback tão positivo e encorajador. Fique à vontade para voltar sempre e compartilhar seus pensamentos. Se houver algum tema específico que você gostaria que eu abordasse no futuro, por favor, me avise. Até mais!🌷